LITERATURA

Fazer doce do amargo da vida

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

12/11/2021 às 15:22:21 - Atualizado há

FAZER DOCE DO AMARGO DA VIDA – Carlos Francisco Freixo

Basta dizer que é poeta que descontam todas as realidades que poeta vivencia e o projetam na alcunha de nefelibata. Este é o ponto: na profusão de incoerências, de falta de regras, de incompetências, de prepotências, há a necessidade de respirar uma brisa, de saborear um por de sol, de tomar um vinho sem pressa, de aguardar a preparação do almoço de domingo, e o poeta sabe fazer doce do amargo da vida.

Ao ler Cora Coralina começo a pensar se percebemos as mentiras que nos pregam diariamente ao falarem do "tempos bons de antigamente". E nós mesmos temos a mania de falar bem de um passado que não foi tão assim. As faltas, as tundas, as imprecisões de um futuro que nos tirou da beira do "corgo" para nos colocar na beira do esgoto. E nem mesmo todo esse conhecimento possível nos aproxima de uma solução que qualquer candidato a tem antes das eleições para a solução imediata, mas, assim que assume o executivo ou legislativo, temos quatro anos de atribuição da incompetência aos governos anteriores.

Aninha... Aninha... está doendo em mim sua poesia, seus escritos, sua história tão igual a tantos de nós. E, se olharmos com um pouquinho de atenção, ainda veremos que, com todas as dificuldades, as Coras Coralinas, as Carolinas Marias de Jesus, os Patativas, Manuéis de Barros, os Jucas Macedo se fizeram água para alimentar as vidas resilientes que, por serem vidas, tiveram a paciência da natureza para nascer, crescer, gerar frutos, alimentar a quem precisa, e voltar a ser semente para que a vida – sendo frágil – tenha o saber da água que é rio de peixes, rio de nuvens, rio dos subterrâneos.

Hoje, com a leitura de Cora Coralina, não quero sair de meu cantinho, de meu recanto; não quero comprar um doce para adoçar a vida: quero sentir em mim todas as pessoas que prosseguem a vida mesmo com a ausência de responsabilidade daqueles que poderiam dialogar para descobrir os valores de nosso povo, o talento de nosso povo, a necessidade de nosso povo.

Vou para a cozinha. Não tenho o talento de Cora Coralina – senhora de doces e poesia – vou preparar um doce daqueles que me farão permanecer atento e apurar o doce por um bom tempo, sem pressa, atento para chegar ao ponto, atento para não passar do ponto. Doce feito com carinho, carinho que exige paciência, paciência que cobra tempo, tempo que nos reserva o doce apurado no fogão a gás (não tenho fogão de lenha – a lenha que os ventos nos deram serão jogados como se fossem dispensáveis).

Amanhã será o dia da oferta aos amigos que fazem parte dessa resistência, hora de ofertar o doce com prosa e poesia que embala nossos dias, que nos abre sorrisos, que nos faz maiores porque minha mão estendida encontra sua mão estendida e temos nosso amor ampliado. Isso é eternidade.


Carlos Francisco Freixo, luso-brasileiro, Membro da Associação Prudentina de Escritores-APE; poeta, escritor, diretor de teatro, compositor, produtor cultural, professor; autor dos livros Nove Meses Mais; Minha Hora Plena; Cacófatos Histéoricos; 111; Que Fado é Este?; Fui Covarde.

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