LITERATURA

Andar sobre o muro

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

06/04/2022 às 13:15:19 - Atualizado há

ANDAR SOBRE O MURO é o que nos resta? Estamos aglomerados de pensamentos extremos e parece estranho ter que se deslocar para um ou outro lado. De um lado, cães raivosos treinados para o confronto; de outro lado nos rodeiam as silvas (sarças, espinheiros) – com um pequeno descuido e estaremos lanhados em nossa pele e nossa alma, decepcionados porque muito confiamos.

Nada é tão simples em tempo algum. E hoje? O próximo é sempre o culpado por nossas mazelas? Seguimos mudos e voltamos calados. Não podemos levantar dúvidas para serem esclarecidas. Não podemos mostrar caminhos possíveis. Não podemos apresentar o sentido literal das palavras. Não podemos apresentar metáforas que deixariam mais clara a nossa forma de pensar. Ironia, então, não cabe. Nem de brincadeira.

Como seria importante se aprendêssemos que o diálogo, a conversa, o bate-papo, uma simples pergunta seria o mais importante. Ninguém sabe do amanhã, nem de depois do amanhã. Nossos candidatos a nos comandarem sabem tudo o que deve ser feito. Mas quando assumem, passam sua gestão inteira dando desculpas das gestões anteriores. E nós ficamos pendurados nos pêndulos dos relógios como se apenas um lado ou o outro resolverão nossos problemas, realizarão os nossos sonhos, ou vão mudar nossa geografia.

Os tempos mudam e permanecem. Há valores que só cabiam em épocas anteriores à nossa. E não eram melhores. Melhores poderíamos estar hoje. Mas temos de nos manter em linha reta. Mais ou menos como aconteceu nas Olimpíadas do Brasil: de renome internacional, Gisele Bündchen pôs-se em seus passos na passarela feita especialmente para ela atravessar todo o campo, em linha reta, pé ante pé, sem desvio, sem vacilo, como se fosse a maior elegância mostrar sempre em frente, sem curva, até o fim do programado; ou o movimento acrobático sobre o cavalo: um vacilo, um desvio, um desequilíbrio e só daqui a quatro anos mais.

A vida não é assim. Estamos suportando todas as contradições ao mesmo tempo. Mas só nós temos de cumprir a lei. Cumprir as leis que são alteradas diariamente, ou empurradas pela barriga da perna para misteriosas camuflagens.

Toda filosofia é bonita. Resta a cada criatura entender de valores onde o respeito a todos esteja presente, e seja a tônica e marca do compartilhar de direitos e deveres, de sonhos e realizações. A vida humana é frágil. Como pessoas, temos em nós a dimensão do eterno, do divino. E podemos nos empenhar bem mais para sermos a clara aliança de humanidade.

Carlos Francisco Freixo, luso-brasileiro, Membro da Associação Prudentina de Escritores-APE; poeta, escritor, diretor de teatro, compositor, produtor cultural, professor; autor dos livros Nove Meses Mais; Minha Hora Plena; Cacófatos Histéoricos; 111; Que Fado é Este?; Fui Covarde.

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