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Veículos versus pedestres

Morreu na contramão atrapalhando o trânsito - Chico Buarque de Hollanda

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

24/03/2022 às 17:59:47 - Atualizado há

Creio que o único pedestre que goza de respeito é aquele estampado na garrafa de whisky Johnnie Walker, porque regra geral ele – o pedestre – está posicionado num nível de inferioridade psicológica e social inegável quando comparado àqueles que usam como meio de transporte o veículo.

O pedestre é vítima de uma perseguição implacável dos veículos, muitas vezes com o apoio daqueles que tem o dever de ordenar o trânsito nas cidades. Mesmo naquele espaço que por natureza é território dos pedestres – a calçada -, lá estão também os onipresentes veículos. Sem nenhum pudor, ocupam total ou parcialmente o passeio público, geralmente para estacionar naquilo que outrora fora um jardim e, agora, converteu-se num estacionamento de loja, escritório, consultório ou até mesmo de um órgão público. Como são pequenos espaços, a calçada se torna uma extensão do estacionamento improvisado do imóvel.

Para piorar, muitas vezes com a omissão e/ou estímulo do Poder Público, agora os veículos também estão tomando conta de espaços públicos sagrados em qualquer parte do mundo civilizado: as praças e parques urbanos.

Coitado do pedestre. Não tem vez! Nem mesmo na calçada - seu espaço de circulação por excelência – ou nas praças e parques urbanos tem sossego para deslocar-se sem incômodos ou perigos. Sem contar que muitas vezes a "solução" que alguns administradores públicos encontram para possibilitar melhor fluidez dos veículos pelas ruas apertadas reside justamente em diminuir as dimensões das calçadas ou eliminar canteiros centrais de avenidas, que além de tudo enfeia a cidade.

Nessa peleja entre veículos e pedestres, estes estão perdendo, como sempre, e sem perspectiva de virar o jogo. O carro sempre leva a melhor, e com o aumento da frota e o transporte coletivo ineficiente e desconfortável, a tendência continuará sendo essa. O despreparo e a falta de coragem daqueles que deveriam adotar uma postura de defesa do pedestre são também ingredientes que incrementam o caos no trânsito urbano, priorizando a máquina e não a pessoa (que anda a pé), sobretudo nas cidades médias e grandes.

Afinal, ter carro no Brasil é sinônimo de status, enquanto andar a pé ou de ônibus não. Aliás, até mesmo o significado de pedestre não colabora para inverter esse quadro, pois além de designar quem anda ou está a pé, significa também simples, modesto. Enfim, ser pedestre é ser modesto, e andar de carro é ser chique.

Como dificilmente renunciaremos ao carro neste momento, melhor redobrar a atenção ao atravessar a rua.

Um brinde à Johnnie Walker!

Nelson R. Bugalho, Promotor de Justiça/SP

Foi Vice-Presidente da CETESB e Prefeito de Presidente Prudente

Mestre em Direito Penal Supraindividual.



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