Polícia

Mulheres relatam síndrome do pânico, depressão e assédio de juiz: "Não quero mais humilhação'

São 59 relatos de assédio sexual que envolvem Marcos Scalercio; 18 foram enviados ao Conselho Nacional do Ministério Público e 2 ao MP-SP

Por Daniele de Melo Cardoso

18/08/2022 às 10:21:39 - Atualizado há
Marcos Scalercio foi afastado da função de professor REPRODUÇÃO/ YOUTUBE

A repercussão do caso do juiz e professor de direito Marcos Scalercio, acusado de assediar sexualmente alunas e colegas de trabalho, fez com que outras vítimas decidissem compartilhar relatos semelhantes de assédio por parte do magistrado.

Em suas redes de atendimento, a Me Too Brasil, organização sem fins lucrativos que oferece assistência jurídica gratuita a vítimas de violência sexual, recebeu relatos de mais mulheres que disseram ter sido assediadas por Scalercio. São ao menos 59 advogadas, estagiárias, juízas, bacharéis e servidoras do TRT da 2ª Região.

A ONG enviou à reportagem do R7 os prints das mensagens que recebeu dessas mulheres, que não serão identificadas.

Em comum entre os relatos, a conduta abusiva do professor, com diversas investidas de cunho sexual, e, em vários casos, a hesitação das vítimas em levar o caso a público por medo de retaliação e da descrença em uma possível denúncia. Algumas delas se recusaram a levar adiante as ocorrências pela dor de revisitar a experiência de assédio.

Entre os 59 relatos, uma ex-aluna de Scalercio afirma que passou a sofrer de depressão e síndrome do pânico. O impacto provocado a afastou por três anos dos estudos, aos quais retomou apenas recentemente.

"Achei que [os problemas que sofri] eram só por não conseguir alcançar as notas. Mas, na verdade, isso também pesou. Do tipo, "até onde vai a humilhação para conseguir alcançar um sonho?"", escreveu ela.

Outro comportamento recorrente em boa parte dos relatos é a resposta grosseira do professor ao desinteresse e às negativas de alunas às suas tentativas. Segundo elas, Scalercio passava a tratá-las com indiferença, respondia às suas dúvidas "de qualquer jeito" e, em alguns casos, criticava as estudantes entre outros professores.

"Eu já sofri! Depois que não quis ficar com ele, começou a falar mal de mim para todos os professores. Ele vai chegando dizendo que quer ajudar, mas é tudo mentira. Conheço várias meninas que passaram por isso", escreveu uma das vítimas.

As provocações de teor sexual são frequentes entre os prints enviados à organização. Em um dos casos, uma aluna relata que foi até o professor para tirar uma dúvida, e ele respondeu perguntando se ela gostava de "beijar na boca".

Outra estudante disse que Scalercio havia prometido uma revisão de prova por videochamada, mas que, quando abriu a câmera, estava nu, se masturbando. "Nojento. Nunca falei disso com ninguém. Vou denunciar, sim. Sempre tive medo de retaliação no concurso, que é o sonho da minha vida", lamentou.

Uma denunciante enviou o print de sua conversa com o juiz, que havia feito a ela uma pergunta sobre sexo. Ela disse a ele que, embora o considerasse "um cara incrível", se sentiu constrangida com a mensagem. Em resposta, Scalercio desconsiderou o incômodo da mulher: "Uma pena que cortou [a conversa]. Boa noite e sucesso pra você."

Ao todo, dos 59 relatos recebidos pelo Me Too Brasil, 18 foram encaminhados ao Conselho Nacional do Ministério Público e 2 ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo).

Acusações

As denúncias recebidas pelo Me Too Brasil envolvem acusações de assédio sexual a três mulheres, cometidas entre os anos de 2014 e 2020. A organização encaminhou as denúncias para o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em Brasília, após o TRT da 2ª Região ter afirmado que não havia provas suficientes para a abertura do processo.

As denunciantes são advogadas, estagiárias, juízas, bacharéis e servidoras do TRT. Segundo o relato das vítimas, elas foram agarradas e forçadas a beijar Scalercio em espaços privados e públicos. Uma delas o denunciou após ter participado de uma reunião de vídeo em que o juiz estava completamente nu e se masturbando, de acordo com o Me Too.

Em nota, o CNJ informou que os fatos relacionados ao juiz Marcos Scalercio estão sendo apurados sob segredo de Justiça. O pedido de providências é uma apuração preliminar, na qual ocorre a avaliação do fato e das provas existentes para estabelecer se a infração foi cometida ou não. Caso seja comprovada, poderá acarretar um processo administrativo disciplinar. Caso contrário, ocorrerá o arquivamento do procedimento.

O Me Too BR divulgou uma atualização a respeito do caso no início da noite desta quarta-feira: "Até esta quarta (17/8), rebemos 59 relatos de assédio pelas redes de atendimento do Me Too Brasil e o Projeto Justiceiras. Desses 59 relatos, 18 foram encaminhados ao Conselho Nacional do Ministério Público e 2 ao Ministério Público de São Paulo."

Defesa do juiz

Em nota, os advogados de defesa do juiz afirmaram que as acusações contra Marcos Scalercio "já foram objeto de crivo e juízo de valor pelo órgão correcional e colegiado do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Ele foi absolvido pelo tribunal e o caso foi arquivado".

Segundo os advogados, foram ouvidas 15 testemunhas no processo. "O arquivamento, portanto, demonstrou que o conjunto probatório é absolutamente insuficiente para dar lastro em qualquer dos fatos relatados."

Ainda em nota, a defesa destaca que o juiz nãquo é investigado criminalmente: "Scalercio não responde a qualquer resvalo na esfera criminal, sendo inverídica a informação que parte do pressuposto que o magistrado está denunciado criminalmente. É profissional de reconhecida competência e ilibada conduta pessoal, quer seja no âmbito acadêmico, quer seja no exercício da judicatura".

Fonte: R7 Notícias
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