Vinhas da Ira.

O que vou fazer no meio de tanta desgraça? As dividas bancárias dominam e matam minha esperança. As crise no País é forte e o desemprego aumenta dia a dia. O Populismo político enganou a todos, inclusive eu que esperava tanto desse governo. Porque temos que caminhar sempre? Para qual lugar? Minha empresa foi a falência. Anos e anos de trabalho destruídos por uma recessão sem precedentes. Meus amados empregados de tantos anos estão desesperados. Não tenho mais palavras para dar forças e levantar seus ânimos cansados de esperar, querendo ouvir a voz forte da esperança. Presenciei alguns deles comprando cachaça para se embebedar e esquecer dessa dura realidade surrada pelo desalento. Vejo em seus olhos o inconformismo, a ira, o medo e a perda da dignidade. Nossos destinos estão nas mãos do incerto. A cada dia que passa a esperança toma outras formas, outros significados. A fé me abandonou ou nunca senti fé? Deus é para acreditar ou para senti-lo? Estou de joelhos e rezo para quem? somos homens sem rumo, como um barco à deriva. Estou cara a cara com o meu fracasso e minha auto crítica me esmurra, me castiga como um grande campeão mundial de boxe lutando contra ninguém. Não posso cair na lona da vida. Tenho que acreditar. Perdi tudo, mas não posso perder a motivação e sentir que sou ainda um ser humano cheio de sonhos. A ira continua crescendo nos olhos dos esfomeados repousando nas mentes e corações como se fosse um ovo de serpente. Versos do livro Vinhas da Ira de John Stenbeick aparecem em minha mente e suas palavras são como facas sendo enfiadas, cortando a esperança ao meio:

"Nos olhos dos homens reflete-se o fracasso. Nos olhos dos esfaimados cresce a ira. Na alma do povo, as vinhas da ira diluem-se e espraiam-se com ímpeto, amadurecem com ímpeto para a vindima."

Pérsio Melem Isaac: Empresário e Cronista Político