POLÍTICA

A Juriti que não caiu do galho

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

06/10/2023 às 18:43:07 - Atualizado há

17 de setembro de 1971. Em Grotas de Macaúbas na Bahia dois homens lutavam pelas suas vidas. O Capitão do Tiro, Carlos Lamarca e seu amigo Zequinha. Carlos Lamarca era filho de sapateiro e seu irmão seguiu o caminho de seu pai, era sapateiro no Morro de São Carlos. Seu pai o criou com muita dificuldades. Ninguém mora dentro de ninguém e assim o Capitão desertou do exército brasileiro. Suas aspirações políticas o levaram a essa difícil decisão. Assaltou o Quartel do quarto regimento de Quitaúna onde ele servia como Capitão. Era considerado o melhor atirador do Exército Brasileiro. Levou armas e munições. Entrou para a luta armada liderando a VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária. Participou de sequestros, assaltos a bancos e combates contra a polícia e exército. Acreditava no seu ideal. Zequinha participou de movimentos operários e estudantis e era da região de Grotas de Macaúbas. Lamarca era visto como um traidor para muitos e heróis para poucos. Sabia que estava quase no fim, pois estava vivendo naquele angustiante momento um estado de extrema fome e cansaço. Tinha a consciência que se o pegassem não haveria misericórdia. As forças policiais estavam muito preparadas e focadas em acabar com esses revolucionários. Foi levado pelo movimentos a promover um projeto de guerrilha rural em Grotas de Macaúbas. Seu estado de exaustão e fome era latente. Nesse momento vive um estado de ternura e começa a escrever uma carta ao seu grande amor, Iara Iavelberg, psicóloga e militante marxista. Na carta ele expressa todo seu romantismo e amor por aquela mulher linda e de família judia. Mesmo com tanta fome ele vê o pássaro Juriti e nessa carta ele descreve esse momento sublime:

"Aqui muitos pássaros lindos de variadas cores – perto está uma juriti pronta para tomar um tiro no peito, mas não darei o tiro e a vida dela continua em homenagem a ti. Ela voou".

Quando escreveu a última palavra da sua carta-diário, Carlos Lamarca já teria sabido da morte da destinatária, Iara Iavelberg, dia 6 de agosto, quando foi morta em Salvador por uma operação militar. Lamarca foi morto junto com seu amigo Zequinha com sete tiros. O seu sonho e sua ilusão tinham terminado, mas para ele tinha combatido o bom combate. Um dos seus pensamentos ainda ecoa nas mentes e corações dos sonhadores:

"Quando sentirem saudades, então estudem mais, perguntem tudo que não entenderem, perguntar sempre o porquê das coisas — e pensar — ver se é certo, se não for, falem, discutam — ver se é justo, se não for, lutem para mudar".


Pérsio Melem Isaac - Empresário e Cronista Político

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