POLÍTICA

O espião.

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

13/09/2022 às 16:58:33 - Atualizado há

Meu nome é Kamil Amin Thaabeth. Tenho o nome do meu pai, Amin Thaabeth e minha mãe se chama Sa'id Abrahim. Eles nasceram em Damasco, mas foram para Beirute em busca de trabalho. Foi lá que eu nasci, em 1915. Tempos depois se mudaram para Bueno Aires. Lá meu pai tinha uma grande fábrica têxtil, na rua Legazzi, número 74, onde eu moro agora. Quando meu pai faleceu, que Alá o tenha, eu assumi a empresa e com orgulho, ela se tornou uma das empresas têxteis mais importantes da América do Sul. Minha mãe, que Alá o tenha, morreu anos antes. Não tenho irmãos e nem irmãs. Tive uma irmã mais velha mas ela faleceu quando eu tinha três anos. Então sou só eu. Nunca estive em Damasco, mas me apaixonei pelas histórias que meu pai contava. Tenho e sinto um profundo patriotismo pelo meu amado país. Sinto que chegou a hora de eu voltar para contribuir de toda forma possível. Eu acredito que posso fazer a diferença. Esse era o treinamemto que Eliyahu Ben-Shaul Choen, conhecido como Eli Cohen, recebia do Mossad, o serviço secreto de Israel, para viver o papel de um magnata sírio na Argentina. Iria se tornar um espião. Ele nasceu no bairro judeu de Alexandria no Egito. Em pouco tempo Eli, ou melhor dizendo, Kamil conquistou a simpatia entre os sirios e libaneses que viviam na Argentina. Seus jantares eram suntuosos em seu luxuoso apartamento. Gostaram dele porque ficaram impressionados com seu fervor nacionalista. Dizia sempre do seu enorme desejo de conhecer a Síria. Formou um vasto círculo de amizades poderosas e foi recomentado para que tivesse a melhor das recepções. Chegou em Damasco e alugou um belo apartamento localizado no elegante bairro de Abu-Ramanah , bem em frente do outro lado da rua, ficava o prédio do quartel-general do exército sírio. Rapidamente instalou sua empresa de importação e exportação que prosperou rapidamente. Tinha que chamar a atenção da elite síria. O mundo árabe estava vivendo momentos de extrema tensão. Ataques de ambos os lados eram frequentes. O Mossad precisava urgentemente de um espião na Síria temiam uma guerra e estavam sem informação. Conheceu um ex nazista, Franz Radmacher, citado por Adolf Eichman como um dos seus principais auxliares. A Síria tinha o apoio da Rússia. Sua maior proeza foi ter conquistado a confiança do Tenente Maazi. Fizeram uma longa excursão pelas colinas de Golã, onde ele pode ver extensos bunkers ali construidos e as armas de artilharia de longo alcance apontados na direção de Israel. Os sírios confiavam e gostavam muito de Kamil e quando descobriram que ele era um espião do Mossad ficaram pasmos e surpresos. Foi brutamente torturado mas nada falou. No dia 8 de maio de 1965, sua sentença de morte por enforcamento foi proferida. Seu papel foi essencial para que Israel ganhasse a guerra dos seis dias. Suas informacões foram muito valiosas para o Mossad preparar Israel para a guerra. Eli subiu as escadas do cadafalso e dispensou escolta militar. Estava calmo e pálido. O carrasco ofereceu uma venda para os olhos que ele recusou. No dia 18 de maio de 1965, às 3 horas e 35 minutos Eli Cohen estava morto. Deixou uma carta para sua mulher Nadia:

"Peço-lhe que case para que nossos filhos tenham um pai. Dou-lhe para isso plena liberdade. Não percam tempo chorando por mim, pensem sempre no futuro. Mando meus últimos beijos para você, Sofie, Irit, Shaul e Nádia. Não deixem de rezar em memória de meu pai e também por mim. Para todos vocês, shalom". Nadia Cohen nunca mais se casou.


Pérsio Melem Isaac

Empresário e Cronista Político

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