PolĂ­tica Wilson Witzel

Tribunal especial aprova impeachment de Witzel

Por Daniele de Melo Cardoso

01/05/2021 às 10:54:14 - Atualizado hĂĄ

O Tribunal Especial Misto (TEM) aprovou ontem (30) o impeachment do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que jĂĄ estava afastado e perdeu o cargo de forma definitiva com a decisão. Como consequĂȘncia, o governador em exercĂ­cio, ClĂĄudio Castro, se tornarĂĄ o governador de fato.

Até agora, o impedimento recebeu oito votos favorĂĄveis e nenhum contrĂĄrio. Dois votos ainda serão concluĂ­dos, e o tribunal também deve definir ainda hoje por quanto tempo Witzel perderĂĄ seus direitos polĂ­ticos.

Witzel estĂĄ afastado do cargo desde agosto do ano passado e foi denunciado pelo Ministério PĂșblico Federal por participação em um esquema de desvios de recursos na ĂĄrea da saĂșde, que seriam aplicados no combate à pandemia de covid-19.

No processo de impeachment, Witzel foi condenado por crimes de responsabilidade na resposta do governo do estado à pandemia, e, especificamente, pela requalificação da organização social (OS) Instituto Unir SaĂșde ao assumir contratos com a administração pĂșblica e a contratação da OS Instituto de Atenção BĂĄsica e Avançada à SaĂșde (Iabas) para a construção e gestão de hospitais de campanha no ano passado.

Para ser condenado, Witzel precisava receber sete dos dez votos no tribunal misto, que era composto pelos desembargadores Teresa Castro Neves, Maria da Glória Bandeira de Mello, InĂȘs da Trindade, José Carlos Maldonado e Fernando Foch e pelos deputados estaduais Waldeck Carneiro (PT), relator do processo, Alexandre Freitas (Novo), Chico Machado (PSD), Dani Monteiro (PSol) e Carlos Macedo (REP).

Acusação

O julgamento pelo Tribunal Especial Misto (TEM) teve inĂ­cio às 9h33, com a manifestação da acusação, feita pelo deputado estadual Luiz Paulo (Cidadania), co-autor da denĂșncia feita na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), junto com a deputada Lucinha (PSDB). Segundo ele, foi comprovado que Witzel cometeu crime de responsabilidade punĂ­vel, "visto a existĂȘncia de atos Ă­mprobos cometidos contra a administração pĂșblica estadual e a tipificação dos mesmos conforme prescreve a lei federal 1.079/50".

As acusações são a respeito da contratação das OSs Unir e Iabas para a prestação de serviços de saĂșde no âmbito das ações de combate à pandemia de covid-19 com a criação de uma "caixinha da propina" de 20% dos valores dos contratos.

Segundo o deputado Luiz Paulo, os fortes indĂ­cios de fraudes levaram a trĂȘs operações do Ministério PĂșblico Federal: Placebo, Favorito e Filhote de Cuco. Sobre a OS Unir, o deputado destacou que ela foi desqualificada em outubro de 2019 e teve os contratos rescindidos. Porém, no dia 24 de março de 2020, depois da decretação da emergĂȘncia sanitĂĄria no estado, a desqualificação foi revogada, sendo novamente desqualificada no dia 15 de maio, após a Operação Favorito".

"A requalificação da Unir foi ato Ă­mprobo, que não atendeu o interesse pĂșblico e a sua desqualificação em seguida foi uma tentativa de se dar uma falsa aparĂȘncia de imparcialidade, quando os atos Ă­mprobos jĂĄ haviam sido descobertos pelas operações", afirmou a acusação.

Sobre o Iabas, Luiz Paulo destacou que a OS tinha 96% dos contratos com o Estado com avaliação de desempenho com conceito C, ou seja, o pior de todos. E, mesmo assim, celebrou em abril de 2020 contrato de R$835,8 milhões para a construção e gestão de sete hospitais de campanha.

"Não houve justificativa pertinente para a sua escolha. O montante inicial de R$256,6 milhões foi empenhado e pago, sendo que foram entregues apenas dois hospitais – Maracanã e São Gonçalo – e apenas o do Maracanã funcionou por breve tempo e sob muitas ilegalidades, como sobrepreço e superfaturamento".

Defesa

A defesa de Witzel teve 30 minutos para fazer as considerações e negou todas as acusações. Os advogados Bruno Albernaz e Eric de SĂĄ Trote afirmaram que o governador não foi o responsĂĄvel pelas decisões de contratação das organizações sociais tomadas por seus secretĂĄrios e sub-secretĂĄrios e pediram a anulação do processo.

"Se socorreu a todo o tempo de elementos estranhos aos autos, denĂșncias do MPF que sequer passaram pelo crivo do contraditório no processo originĂĄrio, elementos alienĂ­genas à demanda. O que foi até difĂ­cil para o governador se defender dos atos aos quais estão sendo imputados a ele", afirmou a defesa.

Os advogados fizeram trĂȘs alegações preliminares para pedir a nulidade do impeachment. A primeira pedia que fosse decretada a inépcia da denĂșncia, por "falta de clareza na delimitação das acusações", além da nulidade absoluta do processo por "falta de apresentação do libelo acusatório", que é a delimitação do fato que estĂĄ sendo julgado.

A segunda dizia que a SĂșmula Vinculante nÂș 14 do Supremo Tribunal Federal (STF) não foi respeitada, que fala sobre a imprescindibilidade de acesso a todas as provas relevantes. Para a defesa, o desrespeito se deu pelo falta de juntar ao processo a Ă­ntegra da delação premiada do ex-secretĂĄrio de SaĂșde Edmar Santos. A terceira preliminar alegou cerceamento de defesa por ter sido negada a produção de prova pericial prĂĄtica, com relação à contabilidade dos pagamentos feitos à Unir e das obras e serviços de hospitais de campanha pelo Iabas.

Todas as preliminares foram rejeitadas por unanimidade, seguindo o relator.

Witzel

Em sua conta no Twitter, logo após o inĂ­cio do julgamento pelo TEM, o governador afastado Wilson Witzel afirmou que não desistirĂĄ do cargo e acusou o processo de ter motivação polĂ­tica.

Relator

O deputado Waldeck Carneiro (PT), relator do processo de impeachment , votou pela procedĂȘncia das acusações. Em seu voto, que durou mais de duas horas, Carneiro acolheu integralmente os dois eixos da acusação e o pedido para a condenação à perda do cargo, além da inabilitação para o exercĂ­cio de qualquer função pĂșblica por cinco anos.

O deputado considerou que Witzel "agiu de modo oposto ao que se espera de um governante e lĂ­der, no sentido de proteger, cuidar e representar os legĂ­timos interesses da população que governa e lidera"; que ele é "particularmente conhecedor da Lei e das obrigações inerentes ao ocupante de cargo pĂșblico", jĂĄ que foi juiz federal por quase 18 anos; que os atos praticados "tĂȘm relação com os nĂșmeros devastadores de mortos e infectados pelo novo coronavĂ­rus, no âmbito do estado do Rio de Janeiro"; e que os atos "ferem frontalmente a dignidade, a honra e o decoro do cargo pĂșblico que ocupava".

Votação

O primeiro a votar foi o desembargador José Carlos Maldonado, que julgou que as acusações foram demonstradas de forma inquestionĂĄvel. Em relação à requalificação da OS Unir, o magistrado afirmou que a pandemia "serviu de pano de fundo para o acusado trazer de volta a organização social", ato que classificou de "Ă­mprobo, imoral e desarrazoado". "Não houve, como deveria, qualquer anĂĄlise técnica, financeira ou a realização de uma simples auditoria. Prevaleceu apenas a vontade pessoal e polĂ­tica do governador".

Em seguida, votou o deputado estadual Carlos Macedo (Republicanos). "Estamos, ainda hoje, vivenciando os efeitos dessa malfadada pandemia, que talvez não teria ceifado tantas vidas no nosso estado, caso o poder pĂșblico tivesse atuado no momento oportuno", destacou o parlamentar, que também acompanhou o relator.

Terceiro a votar, o desembargador Fernando Foch afirmou que a administração pĂșblica teve setores loteados por outros investigados no esquema, e que as provas testemunhais "são fortĂ­ssimas" no sentido de que "os contratos eram malfeitos, elaborados para não funcionar, tinham execução extremamente insuficiente, não fiscalizada pelo poder pĂșblico, e, acima de tudo, lesiva aos interesses e aos cofres pĂșblicos".

Os votos seguintes, do deputado Chico Machado (PSD), da desembargadora Teresa Andrade e do deputado Alexandre Freitas (Novo) também foram favorĂĄveis ao impedimento do governador. Freitas considerou que as provas em relação à contratação da Iabas não eram suficientes para vincular Witzel ao esquema, e votou a favor da condenação considerando apenas a requalificação do Instituto Unir.

A maioria necessĂĄria para o impeachment foi formada no voto da desembargadora InĂȘs Trindade, que afirmou que, ao contrĂĄrio do que pregou em sua campanha, Witzel não era um "outsider" da polĂ­tica antes de ser eleito e mantinha relações com personagens influentes quando ainda era magistrado. "A aposta de nova polĂ­tica era uma roupagem disfarçada para esconder a velha polĂ­tica Ă­mproba", disse.

O voto da deputada Dani Monteiro (PSOL) foi o oitavo a favor do impeachment e destacou que a população fluminense foi diretamente afetada em seu direito à saĂșde, jĂĄ que a denĂșncia comprova, além do favorecimento das organizações sociais, o descontrole, a falta de transparĂȘncia e a ausĂȘncia de critérios técnicos nesses contratos.

"Não restam dĂșvidas de que essa prĂĄtica custou milhares de vidas de cidadãos fluminenses", disse Dani Monteiro, que votou pela integral procedĂȘncia da acusação.

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