LITERATURA

Não quero o novo

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

23/01/2022 às 10:24:58 - Atualizado há

NÃO QUERO O NOVO, eu quero o presente, eu quero o constante, eu quero a presença cativante de quem acredita na vida, de quem – mesmo não sabendo da própria importância – nos deseja bom dia dia-a-dia, vibra com nossas conquistas, contribui com nossas esperanças, nos leva em sua alegria.

Eu sei que temos raízes, pois é me inspirando em cada uma dessas raízes que encontro a criança que foi esperada, que foi amada dentro dos princípios da época, que foi acompanhada, que foi ensinada a saber dos limites que nos rege o relacionamento humano, a ver no outro a extensão de sua própria existência, a perceber que outros tempos nos refazem o pensamento, mas a harmonia entre pessoas, natureza, povos deve ser nossa meta. O que a nós traz saudades são os passos dados mesmo com tantas dificuldades.

Quando amanhece, eu tenho inquietudes absurdas: desejo realizar todos os sonhos imaginados nas noites que pausaram-me o corre-corre do dia anterior. Sonhos viram projetos; projetos viram ações desesperadas. É a criança que me habita querendo de pronto o que era apenas sonho. Mas meu dia começa à zero hora; tenho muito a respirar, a me abastecer, a me preparar, a me conduzir. E ao meio-dia começa o declínio do meu dia. Tenho de ver-me seguro para todos esses sonhos, todos esses projetos. E o dia será curto para que o realize.

Neste momento sinto a pulsação das várias gerações que me incitam e me fazem ponderar. Tenho de adultecer. Nem tudo se faz como nos sonhos. Mas a criança que a mim habita, põe-me ao sol de dias renovados; e o adulto no qual me tornei põe-me seguro de que todas as gerações tecem o princípio de nossa existência: estarmos juntos para vivermos a alegria do renovar das horas, dos dias.

E à zero hora termina meu dia, termina a minha noite. E aqui recomeço o que meus sonhos e meus dias tornam possível a realização de tudo o que a muitos parece impossível, passo a passo, linha a linha, rua a rua. Minha memória deixa-me pronto para ver que o amanhã é sempre mais. Mas nunca o mesmo. Cffs 21/12/2019

Carlos Francisco Freixo, luso-brasileiro, Membro da Associação Prudentina de Escritores-APE; poeta, escritor, diretor de teatro, compositor, produtor cultural, professor; autor dos livros Nove Meses Mais; Minha Hora Plena; Cacófatos Histéoricos; 111; Que Fado é Este?; Fui Covarde.

Comentários

LITERATURA

© 2024 Portal Grande Prudente - Presidente Prudente-SP
Direitos reservados - Tel: 18 99696-2234

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

LITERATURA