Hoje eu sai

Saí por aí. Também ontem. E anteontem. Por esses dias todos. Sabia que precisava disso. Precisava encontrar os amigos. Precisava saber dos amigos. Batemos papo. Tomamos água. Tomamos um café. Um sumo de uva. As portas se abriram. Conversamos na calçada. Na sala. Na cozinha. Lembramos amigos. Vimos que não conseguimos ver a todos. Mas todos estão com a gente o tempo todo. Somos feitos de um pouquinho de cada um.

Que grandes diferenças encontramos. Por isso sou pequeno. Sempre fui pequeno. Mas encontrei os amigos. E vi como eu cresço. Como sou mais. Como sou muito. Não sei ser só. Preciso sempre de alguém. Sou carente? Sou carente. Sim, eu sou carente. Mas estou grande quando me vejo refletido nesse olhar amigo.

Às vezes nos juntamos. Fazemos um bom barulho. E somos tão diferentes. Cada um tem aquilo que eu não tenho. Por isso preciso do amigo. Sempre. Por ser diferente. Meu espelho só revela a mim mesmo. E eu sou tão pouco. Deixo o espelho para alcançar a distância. Na distância está o amigo, que está dentro de mim, que me acrescenta, que me revela, que a mim se revela. Que eu preciso para ser o que sou, porque o amigo sabe a completude.

Por que demoramos a nos buscar? Por que tão longe estivemos?

Pode ser que demoramos a nos buscar, mas sempre estivemos perto. Estamos no coração, na mente, nos pulmões. Somos o sangue vivo, somos a utopia e o ar que nos move. Somos a necessária presença para acalmar os soluços e abrir as mentes a um boa conversa. E boas conversas precedem atitudes. E atitude é o que nos pede os amanhãs.

E os amanhãs esperam de nós boa conversa, esperança, a mão estendida, o sorriso, o "estamos juntos".

Carlos Francisco Freixo, luso-brasileiro, Membro da Associação Prudentina de Escritores-APE; poeta, escritor, diretor de teatro, compositor, produtor cultural, professor; autor dos livros Nove Meses Mais; Minha Hora Plena; Cacófatos Histéoricos; 111; Que Fado é Este?; Fui Covarde, Equipa do Batestrada, Oratório de São Francisco e Cronos e Cromos.