Por mais que a gente se dedique, falta sempre aquele ato que poderia ser completado. Mas não deu. O tempo chega no tempo do tempo, e nos atrasamos, sempre nos atrasamos. Cabe fazer um balanço e ver se a caminhada foi boa, ou não.
Cada um de nós tem a sua área de trabalho e, ser profissional, é o mínimo que nos compete. Não existe o "muito profissional". Se é, é; se não é, deveria ser. Não trabalhamos apenas para sobreviver. Isso seria muito sofrimento, nunca uma satisfação pessoal, nunca o mérito de ter um talento para ser exercido. Aí fica triste, tristinho, snif.
No entanto, nem tudo o que queremos realizar, será a certeza de conseguirmos. Vamos no fluxo. O que nos é possível? Como nos mantemos diante de um custo de vida que – normalmente – está de olho para nos liberar apenas (talvez) a respiração para prosseguirmos. E, se conseguimos respirar, temos de pagar por esse atrevimento.
Se falamos em arte, então, complica mais ainda. E nos esquecemos das histórias que nos acrescentam muito, da poesia que nos traz sensibilidade, do teatro que nos expõe os conflitos do ser humano, da pesquisa, das dúvidas, dos caminhos possíveis, da leveza, da dureza, do entretanto, do princípio, do finalmente.
Os escritores têm esse carisma de nos deixar suas reflexões. Não é fácil. Não é simples. Nem sempre as certezas ali estão. Principalmente as dúvidas são a direção que abrem o caleidoscópio de possibilidades. Mas é preciso LER. LER é o exercício majestoso de nos permitir concordar ou discordar. Com certeza nos põe a pensar.
No exercício do magistério, somos leitores dos clássicos e do improvável. Aqueles estão cristalizados como referência; estes são nossos alunos que começam a trilhar o caminho da leitura, não o caminho das certezas. Ensinamos o que já foi pesquisado, mas o tempo dirá se essas verdades permanecem ou tomam direções nunca antes imaginadas.
Neste ano e no anterior, comecei a anotar, um a um, os livros que tenho lido. Foi natural para mim. Talvez tenha lido um pouco a mais do que estava habituado, mas sempre surpreende o resultado quando devidamente anotado. E alguns aspectos gerais me chamaram a atenção também este ano.
Na média, a cada três dias, faço a leitura de dois livros. Dezenove foram da leitura da Bíblia, que comecei no ano anterior e concluindo neste; de autoria feminina foram 73 (50 autoras); de autoria masculina foram 149 (74 autores). Privilegiei alguns que, de longa data já queria ter feito a leitura completa de alguns autores como Machado de Assis, Monteiro Lobato, José Saramago, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz... Alguns mais fiz a (re)leitura do que eu tinha, ainda faltam alguns. Outros ficarão para o ano que chega.
Não fui mal. Foi possível. Linha a linha, página a página, capítulo a capítulo, livro a livro e o encontro com todos esses autores de tantas épocas diferentes nos mostram realidades que a nossa rotina nos impede de ver, que nos impede de refletir um bocadinho mais de que fazemos parte de uma única humanidade. Não deixei de fazer outras atividades que devem ser feitas – queiramos ou não queiramos.
PS: perdi alguns livros de Plínio Marcos. Tudo bem. Já reli mesmo. Outros me esperam. Hoje não. Mas amanhã estou pronto para retomar as minhas leituras.
Carlos Francisco Freixo, luso-brasileiro, Membro da Associação Prudentina de Escritores-APE; poeta, escritor, diretor de teatro, compositor, produtor cultural, professor; autor dos livros Nove Meses Mais; Minha Hora Plena; Cacófatos Histéoricos; 111; Que Fado é Este?; Fui Covarde, Equipa do Batestrada, Oratório de São Francisco e Cronos e Cromos.