Literatura

A Orquestra

Por PORTAL GRANDE PRUDENTE

15/03/2021 às 14:50:04 - Atualizado há

Não me lembro quando nem porque passava, mas ficou em minha memória em preto e branco a briga de egos entre instrumentos musicais. E o ínfimo triângulo em lágrimas. Outro instrumento (não me lembro qual) solta a língua: "Chorando de novo, Triângulo?" que responde: "O piano está me ofendendo..."

Em sua visível empáfia declara-se o mais importante da orquestra; afinal, com suas múltiplas notas não teria nem como ser menos. Claro que outros não concordaram, e os metais se manifestaram e outros foram observando e tomando posição quanto a seus egos e vesgas visões.

Dado momento, os tambores se agitam e, claro, não sussurram a chegada do maestro. Quando este chega, nada se ouve, apenas o olhar do maestro percorrendo todo o cenário, reconhecendo cada talento e se preparando para o grande dia em que todos estão presentes para a celebração das emoções que se apresentam.

Quantos músicos, quantos instrumentos musicais, cada um com sua sonoridade. Cada um com sua afinação, seu timbre, seu naipe. Quando vemos uma orquestra é a maior maravilha do mundo. Por quê? Porque estão harmonizados e houve a necessidade de muitas horas de ensaio até se chegar à afinação, ritmo, equilíbrio entre os músicos e o maestro. E ainda precisou de um público - que talvez conheça alguma parte desse todo - para que a obra esteja completa. Cada um de nós é único e necessário para que a vida esteja em harmonia. Nem vou falar do espaço necessário para que o resultado seja o mais perfeito.

O público pode não conhecer (nem teria como) as horas, dias, meses, anos, décadas, séculos para se chegar próximo à perfeição. Assim como o próprio músico desconhece os caminhos feitos pelo seu público, o seu mundo, a sua vida, o seu dia a dia. E, neste circular mistério, é muito melhor descobrir o que nos torna mais humanos, mais amigos, mais íntegros. É aquele momento em que, já que não sabemos tudo, podemos compartilhar dúvidas, experiências, vivências.

Diálogo – alguém tem dúvida? – é o melhor caminho para entendermos a nós mesmos, o próximo, a humanidade. Assim tem sido feito durante toda a história da Humanidade. Não concluímos nosso aprendizado. Nunca concluiremos nosso aprendizado. Avançamos e avaliamos se o caminho está bom. Nem sempre evolução quer dizer que está melhor. A verdade de ontem pode não caber como verdade hoje.

Por isso vamos revendo nossos dias, recontando nossas histórias, mudando nossas atitudes e, com certeza, devemos perceber que de mãos abertas podemos ter a humildade de pedir socorro/perdão e, da mesma forma, de mão abertas podemos socorrer/perdoar. Deste modo não trocamos conhecimento. O que fazemos é multiplicar conhecimento e humanidade.

Carlos Francisco Freixo, luso-brasileiro, Membro da Associação Prudentina de Escritores-APE; poeta, escritor, diretor de teatro, compositor, produtor cultural, professor; autor dos livros Nove Meses Mais; Minha Hora Plena; Cacófatos Histéoricos; 111; Que Fado é Este?; Fui Covarde.

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